Para roubar o seu dinheiro do banco, os criminosos não precisam mais de tecnologia, apenas do seu celular desbloqueado

Criminosos tendem a seguir o dinheiro. E no Brasil, isso se traduz em tipos de roubos que, por um tempo, parecem virar moda, pois permanecem nas manchetes e nos jornais na televisão durante meses, às vezes até anos.

É fácil lembrar de quando o dinheiro era guardado em agências bancárias e, por causa disso, com frequência ouvíamos falar de grandes assaltos a bancos no país. Uma ação criminosa desse porte era trabalhosa. Envolvia quadrilhas enormes, armamento forte, carros de fuga, planejamento e algum conhecimento de engenharia ou arquitetura, afinal, os bandidos tinham como finalidade estourar cofres bem protegidos.

Com o tempo, o roubo à banco mudou e os criminosos foram encontrando caminhos mais fáceis. Uma etapa desta evolução foi a que ficou conhecida em 2012 como “saidinha de banco”, um assalto em que uma vítima era abordada logo depois de ter sacado uma grande quantia em uma agência ou em um caixa eletrônico. Muitas pessoas morreram no Brasil por conta desse tipo de crime.

Outro avanço no modus operandi dos criminosos encheu o noticiário por volta do ano de 2016: a explosão de caixa eletrônico. Não havia mais abordagens, como sequestros relâmpagos ou roubos na saída de agências. Os criminosos iam até o banco durante a madrugada, ou até lugares que tinham caixas eletrônicos, e utilizavam maçaricos ou dinamite para estourar caixas e levar o dinheiro.

Agora, há uma nova modalidade, que exige nenhum recurso, nem grandes habilidades tecnológicas. Roubar pessoas que estejam usando o smartphone para pegar o celular desbloqueado.

O banco migrou para dentro de nossos smartphones

Não é necessário mais arquitetar um roubo hollywoodiano para colocar a mão no dinheiro. O criminoso precisa apenas de um aparelho celular.

O crime tem trazido muita dor de cabeça para inúmeras pessoas. Há casos com prejuízos financeiros enormes. Com acesso a todos os aplicativos da vítima, os criminosos nem precisam de grandes ferramentas tecnológicas para roubar senhas. Se passando pelo dono do aparelho, ele consegue resgatar senhas de banco. Em um dos casos registrado em São Paulo, a pessoa que teve o celular roubado com a tela desbloqueada perdeu R$21 mil reais. Porque os ladrões fizeram empréstimos e transferências bancárias, e limparam o limite especial.

Como isso acontece? Afinal, sabemos que aplicativos de banco costumam ser seguros e dificilmente criminosos conseguiriam alterar o reconhecimento facial ou a biometria. O método é mais simples: basta entrar em contato com o banco, pelo próprio chat do aplicativo, se passando pela vítima remotamente. O acesso é legítimo, então não é difícil concluir uma negociação financeira.

A tecnologia traz conveniências. Contudo, existe um preço: a vigilância constante e a conscientização no uso dos nossos dispositivos.

Os smartphones, em geral, não possuem proteção suficiente para barrar por completo ações criminosas desse tipo. Mas, existem algumas medidas que, se tomadas, podem elevar o nível de segurança do seu aparelho, e dos seus dados.

Numa era em que o foco de sequestros não são mais pessoas, mas seus telefones, proteger-se envolve ter algum conhecimento sobre configurações dos aparelhos e dos aplicativos. O esforço vale a pena, afinal, os nossos celulares são verdadeiros computadores de bolso e guardam quase todas as nossas informações.

Nós separamos algumas orientações para elevar a proteção dos dados que você carrega no seu celular.

Como se proteger?

As informações que estão em e-mails, SMS e até fotos podem levar até o seu dinheiro. O criminioso envia e-mails para bancos e corretoras pedindo transferências de valores. E como estão usando logins legítimos, conseguem se passar pelo proprietário do telefone sem nenhum problema. Nos apps de bancos, podem clicar no link “esqueci a senha” e cadastrar uma nova.

Você até pode ter um segundo celular, como um aparelho mais antigo, para utilizar os aplicativos bancários. A ideia é não o levar ao sair de casa. Também é importante sempre fechar adequadamente os apps de bancos. Não basta sair do aplicativo, é preciso acessar o gerenciador de janelas do iOS ou do Android e encerrá-lo.

Mas, isso não basta. É preciso reforçar as proteções do celular principal. Algumas orientações que podem ajudar:

  • Coloque uma senha no chip do aparelho, o SIM card. No Android, vá em Configurações, Segurança, Bloqueio do cartão SIM e Exigir PIN. Já no iPhone, clique em Ajustes, Celular e PIN do SIM. Lembrando que para fazer isso, você vai precisar de um código chamado PUK. Ele está num cartão de plástico, que veio junto com o chip da operadora. Se jogou fora, precisa ir até a loja para recuperá-lo;
  • Blinde também o próprio aplicativo de SMS, para que ele sempre peça uma senha ou a impressão digital. No Samsung ou Xiaomi, basta ir no menu de configurações e procurar o item Bloqueio de apps ou Pasta Segura. escolha os apps que vão receber essa segunda proteção. O aplicativo de SMS geralmente se chama “Mensagens”. Nos celulares sem essa opção, o ideal é instalar um aplicativo que faz essa proteção. Um exemplo é o Norton App Lock, da Symantec. No iOS, não há uma maneira simples de criar essa proteção. Mas é possível reforçar a proteção pelo Screen Time.
  • Proteja aplicativos críticos. Gmail, Play Store, a própria área de Configurações do aparelho, aplicativos de delivery e de comércio eletrônico também precisam ser blindados. No aplicativo de proteção, ou nos sistemas Bloquio de apps e Pasta Segura, no Xiaomi e no Samsung, é só selecionar o que você quer proteger. Isso impede acesso de uma pessoa não autorizada caso o celular seja roubado;
  • Anote o IMEI (International Mobile Equipment Identity) do aparelho. É um número de 15 dígitos que identifica o celular. É o número que a operadora irá pedir para você para bloquear o aparelho caso ele seja roubado. No iPhone ou no Android, abra o aplicativo de ligações telefônicas e digite *#06# no teclado. O IMEI será exibido na tela. Anote e guarde o papel num lugar seguro;
  • Desative a Siri e a Central de Controle na tela bloqueada. Os mais experientes conseguirão se aproveitar do recurso padrão da tela de bloqueio para acessar informações pessoais pela Siri e impedir rastreio pela Central de Controle. A Siri pode entregar informações pessoais a quem encontrar seu iPhone perdido. Para evitar que esse tipo de coisa aconteça, o ideal é desabilitar o uso da Siri a partir da tela bloqueada;
  • Faça a configuração do recurso de “destruição remota” do celular. Se o aparelho é Android, abra o computador, acesse o Google e digite find my phone. Vai abrir um mapa mostrando a localização aproximada do seu telefone. Clique em Configurar proteção e limpeza para ativar o recurso de monitoramento remoto do telefone. No caso de iPhone, acesso o iCloud com o seu login e senha da Apple e clique em Buscar iPhone para conferir se está tudo certo;
  • Apague informações sensíveis. Dê uma geral nas suas mensagens. Entre no Gmail, por exemplo, e busque informações como “CPF” ou “senha”. Delete o que você encontrar de informações sigilosas. A mesma coisa, nos seus SMS.

Por João Paulo Barros